Após barrar denúncia da Procuradoria-Geral
da República contra o presidente Michel Temer (PMDB) por corrupção passiva, a
Câmara deve chegar em 2018 com um desgaste nunca visto antes. A avaliação é de
especialistas ouvidos pelo O POVO. Os pesquisadores dizem que a imagem negativa
natural do Congresso Nacional, intensificada com as investigações da Operação
Lava Jato e pelo apoio a Michel Temer - envolvido em investigações de corrupção
e extremamente impopular -, pode causar um fenômeno inédito: o percentual alto
de renovação ou a forte abstenção.
O professor
Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que 81% da
população brasileira, segundo o Ibope, queria a aceitação da denúncia de
Rodrigo Janot contra o presidente. Como a abertura do processo foi negada por
aliados de Temer, há o sério “risco de que poderemos ter em 2018 uma grande
quantidade de votos brancos, nulos e abstenção” , já que há uma “demonização”
da política com o “sentimento da população de rejeição aos partidos e à classe
política”.
Na sessão
da última quarta-feira, 263 deputados votaram a favor do parecer do deputado
Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que recomendava a rejeição da denúncia da
Procuradoria Geral da República por crime de corrupção passiva contra Michel
Temer. Outros 227 foram contra o arquivamento da denúncia. Houve ainda duas
abstenções e 19 ausências.
Para a
pesquisadora Dulce Pandolfi, da Fundação Getúlio Vargas, há desconexão entre
interesses da classe política e da sociedade. Esse desencontro intensifica o
desgaste e pode provocar ineditismos. “Pode acontecer uma abstenção enorme pelo
descrédito que a população tem com a política ou uma renovação já que a crise é
muito grande. A situação do País é muito dramática”, diz. Ela argumenta que a
demonização da política “só faz a população ter descrédito maior ainda e fuja
da política, o que é ruim”.
O desgaste da exposição dos
parlamentares que votaram a favor do presidente na semana passada não
necessariamente enterra a carreira política de quem evitou a abertura da
investigação, segundo o professor Bruno Reis, da Universidade Federal de Minas
Gerais. Segundo ele, as emendas liberadas pelo Executivo devem beneficiar o
reduto eleitoral de cada parlamentar, o que aumentaria as perspectivas de
reeleição. “Se Temer compra o apoio daquele deputado com emendas, o deputado
está levando um benefício para o reduto que o elegeu e isso aumenta as
possibilidades de reeleição”, diz.
A reforma
eleitoral, que deve ser discutida pelos parlamentares em setembro, pode evitar
essa “morte política” porque vai, certamente, beneficiar, segundo Paulo Baía,
quem já tem, historicamente, família na carreira política.
Via O Povo
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