Quando a situação se torna
muito confusa, os políticos gostam de dizer que tem vaca estranhando bezerro. É
o que se dará hoje na disputa pela presidência da Câmara. Temer agora prova do
veneno com que seu partido, o PMDB, sempre intoxicou governos alheios. A ordem
palaciana hoje é tentar evitar a vitória do peemedebista Marcelo de Castro,
ainda que fingindo deixar o jogo correr livre entre os deputados.
Refém
de Cunha, o Planalto deixou que ele dirigisse o jogo de sua própria
sucessão e pode colher a primeira grande derrota. Pode sobrar também para o
ministro do Esporte, Leonardo Picciani, que é visto como suspeito, pelo
núcleo duro palaciano, de ter trabalhado pela escolha de Castro – que não se
bica com Cunha nem presta vassalagem a Temer.
Ainda que PT e PC do B não oficializem o apoio ao peemedebista, a
tentação é grande. Os dois partidos, mais o PDT, voltam a analisar o quadro
hoje. Se Castro chegar ao segundo turno contra o candidato do Centrão,
Rogério Rosso, o Governo terá que sair do conforto e entrar com tudo na
disputa. Mas talvez seja tarde. O PSDB terá que sair da moita e escolher entre
o candidato de Cunha e o peemedebista enjeitado pelas vacas sagradas do Palácio.
Elas andaram dizendo que não iriam repetir o erro de Dilma, que teria
insuflar um candidato petista (Arlindo Chinaglia) contra a candidatura de
Cunha, no ano passado. Mas estão repetindo.
Dilma também fingiu que não se
metia na disputa, ficou fora das articulações e deixou o barco correr,
acreditando que o candidato petista conseguiria o apoio da maioria dos aliados.
Perdeu feio e pagou caro. Temer fez a mesma coisa, acreditando que
Cunha e o Centrão dariam conta do serviço sozinhos. A verdade é que
governo algum pode brincar com este negócio de sucessão na Câmara. Tem que ter
candidato sim, mas para isso precisa de uma base bem coesa. O que se está
vendo, aos poucos, é que a unidade de abril era contra Dilma mas não era
exatamente a favor de Temer.
O curral está tão estranho que podem acontecer três coisas,
e todas terão consequências:
1) Vitória de Castro, que o
Planalto terá de engolir mas causará indigestão no baixo clero do Centrão.
2) Vitória de Rosso, que dificilmente pacificará a Câmara depois
de ter derrotado o PMDB
3) Vitória de um dos muitos Severinos que estão no páreo, se um
deles chegar ao segundo turno, hipótese bem menos provável.
Via Brasil 247
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